E no fundo ela continua sendo a mesma menina

As coisas ultimamente mudam tão velozmente, que as vezes me sinto perdida no tempo...

As datas viraram só números, páginas viradas de um diário, que nem tenho tempo de contar como foi meu dia.

Fotos antigas servem para lembrar momentos felizes , dignos de serem fotografados, as músicas antigas ainda inspiram, mas já são interpretadas de forma diferente.

Vivo brigando, todos os dias, com esse tempo que insiste em voar, e me deixa aqui, isolada, parada no chão, sem asas para acompanhá-lo.

O tempo passa, e aquele papo de "nunca vou mudar" é furado. 

Você não percebe, mas muda! E não é porque você quer, é resultado da maturidade.

E aquela garota que amava um bom e velho Rock'n Roll, que vibrava com muito barulho, solos de guitarra acompanhados de baixo e bateria, hoje, embora ainda goste de rock barulhento,  prefere violão, um som acústico, uma letra bonita, que fale verdades da vida.

Aquela garota que lutava incontrolavelmente para ser diferente de todos, descobriu que existem muitas outras diferentes como ela. Ela não é única, mas ainda assim é como se sente: um pontinho colorido nesse mundo monocromático e sem graça.

As velhas piadas perderam a graça. Você achou que poderia rir de uma situação milhares de vezes, e você ainda ri, mas o riso é diferente, nostálgico, até triste, de certa forma.

Os velhos amigos? Muitos deles foram embora , desapareceram, os verdadeiros ainda permanecem, mas sem muito tempo pra se verem , pra conversar, pra ficar juntos.

Antigamente, eu que fazia o tempo. Hoje em dia o tempo que me faz.

E hoje, a menina tímida, sempre de cabelo preso, roupa preta e all star, que sorria ingenuamente pra tudo e para todos, soltou seu cabelo cacheado, passou um lápis bem preto no olho, um delineador e um batom vermelho e, de vez em quando, põe um salto e sai mostrando ao mundo que cresceu, virou mulher. Mesmo sabendo que para virar mulher ela teve que adquirir muitas cicatrizes ,  que a fizeram crescer, criar raízes, fincar os pés no chão, e por um triz não perdeu todos os seus sonhos, por um segundo deixou de ver desenho nas nuvens, por um instante deixou de ser aquela sonhadora de sempre.

Mas no fundo, bem no fundo, todo mundo sabe, que aquela menina, que admirava jardins e borboletas continua ali, e se você observar bem, de vez em quando, ela se distrai, e sonha, sonha muito, vai para outra dimensão, tira os pés do chão e, mesmo sem asas, voa! Sua imaginação não tem limites, e a menina que nela existe , nunca a abandonará! Você poderá encontrá-la , no sorriso bobo, ou no olhar brilhante. 

Ela sempre será isso: uma menina , mas não uma menina qualquer: uma sonhadora, cuide bem dela, poucos tem esse dom de depois da tempestade, apreciar as poçinhas deixadas pela chuva. Ela é rara, não deixe ela escapar, rapaz!

                                                                                                           (Jóice D'Aviz)